sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O Mercado é Burro…Eu não.


Por Alexandre Mota


Michael Platt é um nome de topo na gestão de ativos. Em 2000 fundou a BlueCrest juntamente com William Reeves. A empresa de investimento teve um tremendo sucesso, expresso num crescimento para perto de 29 mil milhões de dólares sob gestão no início de 2012. A maioria dos ativos distribui-se por dois programas: uma estratégia discricionária da responsabilidade de M.Platt e uma estratégia sistemática seguidora de tendências da responsabilidade de Leda Braga.

No seu mais recente livro, Jack Schwager entrevistou M.Platt, ficando bem vincada a obsessão deste pela gestão do risco, bem patente na construção e implementação da estratégia.

A determinada altura da entrevista (que recomendo a todo o estilo de gestores – ou candidatos - que queiram aprender) Schwager pergunta: “Já selecionou muitos gestores na sua carreira. O que procura quando os escolhe?”. A resposta é desarmante para um certo tipo de gestores.

“Procuro pessoas que sabem que tudo pode acontecer. Não quero tipos que fazem um cálculo no computador, descobrem onde o mercado devia estar, montam a posição, o mercado vai no outro sentido e eles não assumem o prejuízo.”

E acrescenta:

“Esses gestores não pensam em outra coisa senão em quão inteligentes são…o mercado está errado, eles não.” Nota pessoal: há outra hipótese que é serem idiotas.

Ao pensar sobre o que pode acontecer às economias e aos mercados o meu sentimento mais primitivo busca convicções. É natural, todos queremos uma bola de cristal. Mas a verdade é que o mundo não funciona assim e os mercados também não. Não há só um caminho para o sucesso e todos os caminhos têm falhas. Vivemos num mundo de incerteza e a fórmula para lidar com a incerteza não é desenvolver uma tese, ancorá-la nos dados passados e gritá-la como verdade absoluta para o futuro. O mercado não funciona assim. O mercado está sempre em constante mudança.

Lamento caro leitor se não lhe consigo dizer com convicção para onde vão os mercados ou quando comprar ou vender uma ação. Para isto deve procurar outros vendedores de sonhos. A realidade é, pelo menos aos mais simples olhos, bem mais complexa.

Ei-la em poucas linhas:

Por um lado, os principais bancos centrais estão historicamente alinhados no sentido de expandir os seus balanços o que no fim da linha resultará em mais liquidez e inflação quando o canal do crédito abrir, beneficiando a temática RISK ON.

Por outro lado, num ciclo de desalavancagem como o atual, esta criação monetária poderá não servir para mais do que compensar os writedowns de dívida e manter ligadas à máquina instituições financeiras tecnicamente insolventes. Neste cenário a dissonância entre os estímulos e os resultados resultará num RISK OFF mais cedo ou mais tarde.

Vivemos um “New Normal”, nas palavras sábias de Bill Gross. Num “New Normal” são igualmente muito altas as probabilidades de um desenlace Bull com muita inflação, como um desenlace Bear com depressão económica. A chave do sucesso está na gestão do risco e na disciplina.

Bons Investimentos!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A menina dança?


Por Alexandre Mota


“When the music stops, in terms of liquidity, things will be complicated. But as long as the music is playing, you’ve got to get up and dance. We’re still dancing.” – Chuck Prince, CEO of Citigroup, July 2007.

A citação acima está no topo do ranking das melhores citações sobre “como funciona o sistema”.

Os grandes bancos sabem que as suas decisões são arriscadas, mas não têm a disciplina para as evitar. Os gestores dos grandes bancos tudo fazem para insuflar as cotações das ações (pois têm, muitas vezes, o grosso dos seus rendimentos indexados à performance das ações) e esperam (sonsamente) que os supervisores controlem o mercado. Num típico comportamento de manada nenhum banco será especialmente criticado se fizer o que todos os outros fazem, mesmo que as decisões sejam desastrosas no longo prazo.

O problema estará na supervisão ou estará essencialmente na moral tóxica de tudo isto?

Se fosse permitido que os grandes bancos falissem, se não houvesse nenhuma mão protetora que os protegesse quando as coisas correm mal, o sistema estaria muito mais moralizado e os gestores seriam muito mais ponderados. Ora, atualmente não é isso que acontece porque o sistema está construído e é alimentado por uma evidente (e indecente) cumplicidade entre governos, bancos centrais e bancos.

Desde a crise de 2008, os programas de estímulos quantitativos nos EUA (QE1, QE2, Operação Twist e QE3) mantiveram a música a tocar. Todavia, a economia não melhorou. Para onde foi a música? Para o setor financeiro (ações, obrigações, etc). Na Europa os melómanos decidiram uma música diferente: só para os ajuizados e dignos; os outros terão de aprender a merecer ouvir sonatas.

Na minha perspetiva, tudo isto é perverso, a liquidez generosa não resolverá o problema de crescimento. Pior que isso, a excessiva liquidez, a par da moral tóxica referida acima, tenderá a desviar os recursos para atividades improdutivas, alimentar bolhas especulativas e, no final, originar uma nova crise. Pode, num cenário cada vez mais provável, originar estagflação (inflação sem crescimento).

Qualquer interveniente no mercado que entenda esta lógica perversa terá o incentivo a dançar enquanto a música está a tocar. Muito bem, enquanto a música estiver a tocar, há que dançar até porque não o fazer pode significar uma perda real.

Num cenário inflacionista, as obrigações e cash poderão revelar-se investimentos que resultarão em perdas reais de poder de compra (são aparentemente mais seguras, mas os retornos não compensam a inflação). Enquanto a música tocar (enquanto houver liquidez) o investidor que queira proteger o seu património em termos reais deverá considerar que é mais seguro investir em ativos reais, inclusive ações, do que em obrigações de alto rating.

Num cenário deflacionista, obrigações e cash serão os portos seguros.

Em qualquer um dos cenários, os metais preciosos afiguram-se como uma boa alternativa de investimento e um antídoto contra a impressão sem limites por parte dos bancos centrais.





terça-feira, 18 de setembro de 2012

IMPRIMIR


Por Alexandre Mota


As últimas semanas foram bastante profícuas no ambiente macro.

Em primeiro lugar, o BCE confirmou o que o mercado desejara e antecipara, designadamente: 


  • O BCE comprará obrigações de países periféricos e o Bundesbank é o principal opositor desta medida. A compra está condicionada a um pedido de ajuda financeira (“ou algo parecido”).
  • A ação centrar-se-á nos prazos curtos.
  • A intervenção será esterilizada, ou seja, o BCE removerá do sistema o mesmo montante de dinheiro gasto, assegurando que o programa terá um impacto neutro na massa monetária.
  • Não haverá uma banda explícita para os yields.
  • Não haverá senioridade da dívida comprada pelo BCE.

Os mercados acionistas reagiram em alta ao anúncio de compras de ativos pelo BCE e o EUR/USD atingiu os valores mais elevados desde Maio. 

Em segundo lugar, o tribunal constitucional alemão ratificou a tratado orçamental permitindo assim a participação alemã no mecanismo europeu de estabilidade. 

Em terceiro lugar, a reserva federal americana anunciou mais medidas de estímulo à economia americana – o QE3. A Fed vai aumentar a sua carteira de títulos de longo prazo através da compra de obrigações, designadamente obrigações hipotecárias (MBS) no montante adicional de 40 mil milhões de dólares mensais e deverá manter as taxas de juro baixas até 2015 o que significa mais uma ano face à promessa anterior.

Com os principais bancos centrais todos alinhados numa postura expansionista, a temática “RISK ON” prevalece. Os mercados já anteciparam uma boa parte desta decisão ao penalizarem o dólar em detrimento de outras divisas (como o ouro e prata) e ao beneficiarem os mercados acionistas em detrimento das obrigações de alto rating. Este movimento recente não se tem caracterizado por um grande clima de euforia nem altos volumes, o que deixa espaço para subidas adicionais das classes ativos que subiram mais recentemente. 

Imprimir é solução? Se estivermos a falar ao nível da gestão de ativos financeiros e solvabilidade do sistema bancário, a impressão tenderá a beneficiar as apostas de risco, afigurando-se assim como uma solução no curto prazo. Se estivermos a falar da economia real, esta impressão monetária não resolverá nada pois não contribui de forma alguma para o crescimento, podendo até agravar o crowding out entre investimento público e privado. Mais cedo ou mais tarde, a efeito ilusório dissipar-se-á e o próprio mercado financeiro entrará em crise. Uma crise ainda maior que a atual.


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Os 40 mandamentos para gerir uma carteira - Parte 1

Por Alexandre Mota


No seu mais recente livro, “Hedge Fund Market Wizards”, Jack Schwager repete a fórmula dos anteriores bestsellers, Market wizards e The New Market wizards, conduzindo um conjunto de entrevistas a gestores de sucesso, as quais nos levam ao âmago das estratégias vencedoras. No final do livro, o autor sentencia quarenta lições a aprender ou recordar, ao dispor de quem quiser refletir sobre as mesmas e, por fim, percebe-las. São estes “quarenta mandamentos” que começarei a dissecar em leves lotes de cinco.

Não é uniforme a terminologia dos mercados para investidor e especulador/trader. O mais usual é classificar o investidor como alguém que faz investimentos no longo prazo aproveitando as discrepâncias entre preço e valor. Já o trader é mais conotado com táticas especulativas de curto prazo. Na classificação de J. Schwager, o trader distingue-se do investidor pela abrangência de instrumentos e táticas, quer de curto quer de médio/longo prazo, destacando-se a possibilidade de ter posições curtas. Com a evolução dos mercados financeiros, os dois conceitos misturaram-se sendo usual vermos investidores a introduzir componentes especulativas nas suas carteiras, assim como traders a recorrer ao “value investing” em determinados momentos do mercado. É esta mistura complexa que nos interessa abordar, sendo portanto despiciendo chamar a um negócio um “trade” ou um “investimento”. Assumamos que é sempre um “trade” e que a atividade se chama “trading”. Investimento é assim um caso particular do “trading” e o investidor é apenas um caso particular da classe dos especuladores.  



Lições (5/40)


1.       Não há Santo Graal no Trading

Muitos traders acreditam que existe uma única solução para o enigma do mercado. Não só isso não é verdade como as próprias soluções existentes estão sempre a mudar.

2.       Encontre um método que vá de encontro à sua personalidade

Um método que seja perfeito para um trader pode ser desastroso para outro. Um trader impulsivo dificilmente coexistirá com ideias de longo prazo. Um trader calmo dificilmente aguentará os ziguezagues do day trade.
  
3.       Mantenha-se na sua zona de conforto

Se a posição for demasiado grande, o risco é maior, o que pode levar a saídas precipitadas. O gestor Vidich avisa: “Limite o tamanho da tua posição para que o medo não seja o sentimento prevalecente ao julgamento das entradas e saídas”
4.       Flexibilidade é uma qualidade essencial ao sucesso no trading

Traders talentosos não só liquidam posições a perder como também revertem a sua posição, se acreditam que cometeram um erro de avaliação
5.       Adapte-se

Os mercados mudam. Estratégias que resultaram podem começar a deteriorar-se. Bons traders são vigilantes quanto à possibilidade de deterioração da metodologia e estão em constante adaptação.

Envie o seu comentário para alexandre.mota@goldenbroker.com


Bons investimentos!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Super Mário

Por Alexandre Mota


Na quinta-feira, dia 26 de Julho, o presidente do BCE, Mario Draghi interveio verbalmente. Quando se adivinhava mais uma sessão em que os yields da dívida espanhola testariam novos máximos, Draghi afirmou que tudo faria para assegurar a sobrevivência do euro e acrescentou "acreditem que tal será suficiente". Portanto, traçou uma linha na areia.

Inicialmente os mercados reagiram em alta, mas, como se sabe, o diabo está nos detalhes e nesta matéria é provável que estas palavras não sejam mais do que uma tentativa de ganhar tempo. Se não houver atos concretos, o mercado acabará por testar o BCE e obrigar a que este coloque dinheiro onde adiantou palavras.

Isto remete para a solução desta crise. A solução que estão a montar para resolver esta crise de dívida será muito provavelmente e maioritariamente a impressão de dinheiro. O único problema é que isso não resolve o problema, apenas o adia por mais alguns tempos. Quando a banca estiver toda ou quase toda nacionalizada, não houver mais margem para cobrar impostos e a dívida do estado estiver apenas nas mãos dos bancos centrais e restantes bancos zombies, então sim, nessa altura a dívida será cortada de outra forma: ou através de cortes brutais na despesas ou/e através de um incumprimento brutal e/ou uma desvalorização da moeda. Isto não é uma questão europeia. É uma questão americana, europeia, japonesa, em suma, do mundo desenvolvido.




quarta-feira, 25 de julho de 2012

KEYNES E OS AUSTRÍACOS

Por Alexandre Mota


Na atual conjuntura, os yields sobre a dívida pública espanhola são o principal indicador sobre o destino da zona euro.

A Grécia foi apenas o início de uma crise profunda e prolongada. Como já é admitindo à boca pequena, uma saída da Grécia da zona euro seria um mal necessário. Portugal e Irlanda são danos aparentemente manejáveis que estão por enquanto fora do radar. Espanha e Itália são outra realidade, outros números, outro nível de perdas. As medidas em Espanha não estão a resultar, o bailout à banca é insuficiente e as autonomias imploram por dinheiro que o estado central não tem. Há duas visões antagónicas sobre esta temática:

- A visão, que chamamos simplificadamente, pós Keynesiana, defende a intervenção das autoridades via banco central e governos centrais;

- A visão, que chamamos simplificadamente, liberal, defende a falência como forma de limpar os excessos, reconstruir a capacidade de poupança e crescer.

As opiniões são diversas no campo Keynesiano, mas o tronco comum passa por uma boa dose e impressão monetária (leia-se imprimir dinheiro para refinanciar as dívidas dos Estados diretamente ou via banca) e uma menor dosagem na austeridade que, de um modo geral, é reconhecida como necessária, embora deva ser mais diluída no tempo.

No campo liberal, a escola austríaca (a mais estruturada e filosoficamente sólida neste campo) defende que a atual crise resulta de uma insuficiência de poupança e excesso de dívida resultantes da intervenção das autoridades monetárias (que empurraram as taxas de juro para baixo) e dos governos que incentivaram atividades económicas não rentáveis. Para os austríacos o excesso de dívida resultou do excesso de Estado em sentido lato. Portanto, a solução é menos Estado e menos dívida.

Em comum, ambas as visões reconhecem que há um problema de dívida. Os Keynesianos defendem inflacionar para pagar aos credores; os liberais defendem deixar falir.

Onde se posicionam os nossos governantes?

Não sabemos ao certo, mas ao rever as atitudes dos governos, comissão europeia e do BCE ocorre-nos a audição de uma orquestra desafinada, sem maestro e, pior que isso, sem música de qualidade.

Ocorre-nos também pensar que os austríacos têm razão quando apontam o dedo ao excesso de Estado. Há razões para que tal tenha acontecido. O Estado social nas democracias ocidentais era a terceira via, a via democrática, o contraponto à União Soviética e a evolução para um estágio mais humano do capitalismo. Era, mas já não é. Evoluímos rapidamente para uma situação em que são mais os dependentes do Estado, do que os contribuintes. A solução tem passado por taxar mais os contribuintes, mantendo no essencial as despesas. No longo prazo, não vai resultar porque destrói o incentivo a criar riqueza. Esta é uma conclusão comum a Keynes e aos liberais e não um “quote” liberal. Aliás, estamos convictos que Keynes coraria de vergonha e dificilmente concordaria com o que se fez em nome das suas teorias.



Bons Investimentos!


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Veículo Desgovernado

José Dias


Dezanove cimeiras desde que a crise soberana abateu-se sobre a periferia da Zona Euro e continuamos na mesma encruzilhada.

Talvez porque continuamos a viver na mesma negação da realidade.

Talvez porque não gostamos da verdade.

Talvez porque não temos coragem de tomar as medidas difíceis.

O euro foi-nos vendido como a resposta para a nossa falta de crescimento e falta de emprego.

Findo uma década, sem crescimento, estamos de novo à beira do abismo.

Três pacotes de ajuda em 30 anos e parece que ainda não aprendemos a lição.

Uma lição que é fácil de aprender: menos estado e mais economia de mercado.

Os nossos problemas resultam de empresas que se sobrepõe ao “rule of law”. Uma impunidade que choca e uma justiça que não funciona.

Há uma semana um novo pacote para recapitalizar os bancos espanhóis foi anunciado. Com toda a pompa e circunstância. Os investidores respiraram de alívio.

Uma união fiscal, uma união bancária seria finalmente a solução.

As praças europeias subiram, os yields baixaram ligeiramente e alguns políticos puderam dormir umas noites mais sossegados. O euro apreciou face ao dólar em reacção.

Mas menos de uma semana depois, o pesadelo e as insónias regressaram.

Os yields em Espanha ultrapassam o limite do 7% - a linha na areia que separa a solvência da insolvência.

Podem atingir o mercado com intervenções, mais poderes para os burocratas em Bruxelas, etc, mas o MERCADO acaba por se vingar. Felizmente, os especuladores estão alerta e estão a fiscalizar os políticos que afundaram as economias.

As tentativas de planeamento central são um fracasso mas vivemos na ilusão e numa realidade distorcida. Não queremos ver. Ignoramos a fome na Rússia soviética, na Coreia do Norte, o desastre económico em Cuba ou na Venezuela ou o buraco da Politica agrícola comum.



Um problema de excessivo endividamento não se resolve pedindo mais dinheiro emprestado. Um crescimento que se alimenta no endividamento nunca é sustentável.

Nem se resolve dando mais poder a meio dúzia de burocratas que julga ter poder para se substituir as decisões de milhões de agentes económicos.

Nem se resolve dando o planeamento das economias a bancos centrais que fixam a taxa de juro. Como quem fixa o preço do pão na Rússia Soviética.

Temos que viver dentro das nossas possibilidades. Por muito que isso custe. Mesmo que implique um ajustamento de 50% nas nossas economias.

Mesmo que implique um fim às ajudas dos estados a instituições financeiras insolventes.

Mesmo que implique responsabilizar criminalmente quem tomou más decisões.

O mercado não espera que estas decisões sejam tomadas. O mercado antecipa. Enquanto recusarmos assumir os nossos problemas e tomar as decisões difíceis, mais violento será o desfecho final.


José Dias
Golden Broker

terça-feira, 5 de junho de 2012


AS BOLSAS CAÍRAM – e agora? Vêm aí os bombeiros
por Alexandre Mota


Num post em http://bgoldenbroker.blogspot.pt de 5 de março de 2012, titulado “as bolsas vão cair” fizemos o seguinte exercício de bom senso que vamos agora atualizar:

Em 5 de março:

1 – A principal razão que tem sustentado o mercado acionista em alta é a temática da impressão monetária na qual os principais bancos centrais têm estado totalmente alinhados;

2 – O mercado acionista subiu nos últimos meses antecipando/reagindo a esta política acomodatícia.


Em 5 de junho:

Mantêm-se no essencial as ideias 1 e 2 sendo o gráfico abaixo suficientemente elucidativo. Resta saber se passados 3 meses estamos mais perto de uma nova ronda de estímulos.


Em 5 de março:

3 – Para manter o programa de estímulos quantitativos, os principais bancos centrais precisam de justificação económica ou de um comportamento negativo dos mercados;

4 – Os sinais macro são mistos, mas com o crude wti acima de 100 e o crude brent acima de 120, o receio de inflação pode refrear o ímpeto expansionista;

5 – No curto prazo os bancos centrais sentem que cumpriram a sua missão: estabilizaram os mercados de dívida pública e empurraram as acções para cima;

6 – É natural que esperem algum tempo para sentir o efeito das suas políticas.

Conclusão: sem estímulos, as bolsas podem subir mais um pouco aproveitando o embalo dos últimos meses, mas tenderão a esbarrar em resistências cada vez maiores. Aumenta (e muito) a probabilidade de uma boa correcção em baixa nas próximas semanas/meses.


Em 5 de junho:  

Os índices de atividade dão agora sinais de desaceleração/recessão, o crude desceu bastante e as bolsas caíram com estrondo. 


Conclusão (e agora?):
Vem aí mais um programa de estímulos! Nos EUA podem não lhe chamar “QE” ou “twist”, mas sim outra coisa qualquer. Na Europa a situação é mais grave sendo mais urgente estancar a fuga de capitais através de uma ação decisiva dos governos e do BCE. Da China as notícias são negativas, o que deverá acelerar ainda mais os estímulos monetários.

Os principais beneficiários deste pacote de estímulos serão os ativos reais, mas destaco especialmente o ouro e a prata. O timing é como sempre incerto e a dúvida é até onde podem cair os índices antes de virem os bombeiros apagar o fogo. No entanto, há sinais que indicam que esse momento pode estar para breve, como por exemplo o facto do ouro e da prata terem descolado da correlação positiva com os mercados acionistas.


terça-feira, 15 de maio de 2012

Moral Tóxica


Se souberes que os teus actos não terão consequências nefastas pois haverá sempre uma mão protetora que te resgatará se tudo correr mal, então a moral dos teus atos tenderá a ser tóxica ("moral hazard").

Enquanto não se sabe todos os pormenores do escândalo JP Morgan, convém recordar (ver abaixo) como as coisas funcionam no atual sistema capitalista.



segunda-feira, 14 de maio de 2012

Grécia Out

Por Alexandre Mota

Façamos uma antevisão pouco detalhada do que pode acontecer se a Grécia sair do Euro: O novo Drachma cairá rapidamente entre 30% e 50%; um default quase total de pagamentos ao exterior será aplicado mas não será suficiente para terminar com a austeridade, dado que os impostos não serão suficientes para cobrir as despesas, ou seja, a Grécia mantém e manterá um défice orçamental primário por cobrir; o preço das importações disparará e os padrões de vida cairão a pique. A esperança poderá estar numa retoma da competitividade pela via cambial….

O contágio para outras nações em dificuldade (como Portugal):

A saída da Grécia do euro levará a fortes resgates dos bancos da periferia, alimentando um círculo vicioso de confiança/falta de capitalização.

Sem alternativa, as autoridades político-monetárias estabelecerão limites à circulação de capital.

O fim ou a continuidade do euro dependerá da posição alemã. Se a Alemanha entender que para salvar o euro deverá flexibilizar a sua posição dando mais tempo aos países da periferia, nesse caso a Grécia poderá ser caso único. Se tal não acontecer será o fim do euro. Com estrondo….

Nota final:

 Robert Mundell, frequentemente citado como o autor da ideia de zonas monetárias ótimas, elenca quatro citérios necessários para uma união monetária e cambial bem sucedida:

- liberdade de circulação de pessoas;

- liberdade de circulação de capitais e flexibilidade de preços e salários;

- mecanismos fiscais de transferência para as áreas afetadas pelas duas primeiras características acima;

- os vários participantes na zona monetária ótima estão no mesmo ciclo de negócio.

 Caro leitor, pense na zona euro e faça o exercício…é uma zona monetária ótima? Pense nos EUA e faça o mesmo exercício.

Ler mais:

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A MÃO INVISÍVEL – Déjà Vu

Por Alexandre Mota


 “Ao procurar o seu próprio interesse, cada indivíduo promove frequentemente resultados mais efetivos para a sociedade do que se realmente tivesse essa intenção …..através de uma mão invisível promove um fim que não era parte da sua intenção.”
Adam Smith

Os excertos acima são a afirmação inequívoca do primado do indivíduo e a negação da sociedade planificada. A mão invisível é obviamente o mercado não planificado.
No século XXI há outras mãos invisíveis que são as principais responsáveis pelas oscilações de preços. Tudo planeado, tudo controlado, pelo menos para já.

O gráfico abaixo mostra o impacto no índice S&P 500 dos vários programas de estímulos quantitativos.




Este outro gráfico mostra que os balanços dos bancos centrais têm de ser expandidos a taxas de crescimento cada vez maiores só para manter os preços (neste caso das ações) protegidos de um colapso.
Conclusão/Pergunta:
Se não fosse a mão visível da FED+BCE..etc, a que preços estaria a transacionar a mão invisível, ou seja, onde estariam as ações e como, nestas condições, é possível ter convicções firmes no valor de uma empresa ou de um activo?

Alexandre Mota





segunda-feira, 7 de maio de 2012

Grécia e França – e depois das eleições

Por Alexandre Mota





A vitória da esquerda em França e a “Vitória de Pirro” da Nova democracia na Grécia adensam as dúvidas sobre a zona euro. As questões cruciais são estas:

- que tipo de coabitação terá o presidente Hollande com a chanceler Merkl não esquecendo que esta provavelmente também perderá as eleições no próximo ano?

- que tipo de compromissos a aliança Nova democracia / Pasok terão de fazer com os partidos anti euro?

São questões sem resposta imediata mas que apontam num sentido. Os ventos da austeridade impostos pelo eixo franco-alemão estão a mudar. Goste-se ou não é este o sinal dado pelas urnas.

Os mercados anteciparam estes eventos num típico movimento de “sell on rumour, re-buy on fact”, mas de agora em diante reagirão aos próximos movimentos políticos com mais nervosismo. A situação em França é menos confusa. Hollande faz parte do grande centro político e é um institucionalista e não um socialista radical. Para o mês que vem teremos eleições legislativas em França que podem ou não confirmar a viragem à esquerda. Já na Grécia, o facto do centro político não ter conseguido a maioria no parlamento suscita compromissos potencialmente fraturantes com a zona euro. As próximas semanas serão cruciais.

As indefinições políticas na zona euro têm coincidido com um conjunto de dados macroeconómicos que apontam no sentido de uma desaceleração económica. Pouco tempo passou desde os dois leilões LTRO e a economia real continua a agonizar sem crédito. Os mercados acionistas europeus não tardaram a refletir este ambiente e já registam perdas no ano de 2012 (a única exceção é a Alemanha).   

Sem mais estímulos, os mercados acionistas tenderão a derrapar. Depois subirão antecipando novos estímulos e voltarão a cair após a sua concretização. Com este círculo alimentam-se bolhas de preços em determinados segmentos do mercado, mantém-se os bancos acima da linha de água, mas não se resolve o problema económico. Pelo contrário, empurra-se a crise para a frente donde ela ressurgirá…mais grave.

Então se a austeridade excessiva não resulta e os estímulos ajudam a criar bolhas especulativas, parte da solução que tem de ser encarada será algum tipo de default…



quarta-feira, 11 de abril de 2012

História e Convicções


Enfrentar a incerteza nos mercados requer seguramente uma boa noção da história ou como disse Mark Twain: “History does not repeat itself, but rhyme”

Para além disso requer também uma boa dose de convicção (atenção que a maioria das vezes as convicções são apenas profissões de fé).

Sobre a questão histórica é difícil esquecer como arrancaram os anos de 2010 e 2011 e como se comportaram nos meses de Primavera/Verão subsequente (ver gráficos abaixo).

Sobre a questão das profissões de fé nos mercados, o que a história me ensinou pode resumir-se numa citação de Nietzsche: “Convictions are more dangerous enemies of truth than lies.”

 Índice S&P500 no início de 2010 e no resto do ano
(de início do ano até ao topo de Abril registou-se uma variação de +9,42%)


 
Índice S&P500 no início de 2011 e no resto do ano
(de início do ano até ao topo de Abril registou-se uma variação de +9,03%)



 
Índice S&P500 no início de 2012
(de início do ano até ao topo de Abril registou-se uma variação de +13,9%)



Ler mais:

“As bolsas vão cair” em 5 de Março de 2012
http://bgoldenbroker.blogspot.pt/2012/03/as-bolsas-cao-cair.html

“Seguros” em 6 de Março
http://bgoldenbroker.blogspot.pt/2012/03/seguros.html

“Bolsas em queda: os porquês” em 7 de Março
http://bgoldenbroker.blogspot.pt/2012/03/v-behaviorurldefaultvmlo.html

“Print+pause+print+pause” em 9 de Março
http://bgoldenbroker.blogspot.pt/2012/03/printpauseprintpause.html

“Déjà Vu” em 22 de março
http://bgoldenbroker.blogspot.pt/2012/03/deja-vu.html

terça-feira, 3 de abril de 2012

Gastão e Donald

Nota prévia: Esta história é fictícia, embora pontilhada com notas que remetem para a realidade.

Gastão recebeu uma doação do seu tio. Como se tratava de muito dinheiro, Gastão começou a pensar em rentabilizá-lo. Gastão pouco sabia de investimentos, mas tinha um “plano”: O primo de um amigo era um “especialista” e o próprio Gastão fez (dizia ele) o “trabalho de casa”. Todos os dias lia o “jornal económico”, especialmente a secção de rumores, previsões dos especialistas e preços alvo das empresas cotadas (com destaque para os “price targets da Silvergirl Sachs”). Para Gastão era suficiente. Os gráficos mostravam que o índice de NASCRASH estava no fundo (“nos mínimos históricos”). De facto, Gastão tinha investigado e verificado que o índice estava a cair 20% esse ano, 5% esse mês e estava nos mínimos dos últimos 10 anos. O “especialista” repetia “comprar baixo e vender alto”. Após esta sequência de conclusões brilhantes de parte a parte, Gastão comprou acções….

Nota: Ao contrário do que é mitificado, comprar só porque caiu muito não é uma atitude apenas acessível a alguns iluminados, mas representa, a maioria das vezes, apenas e só a vontade de ter razão. De facto, comprar baixo apenas por essa razão é apenas comprar melhor do que milhares que compraram antes. Por sua vez, comprar depois de uma subida significativa é comprar pior do que milhares de investidores que compraram antes, o que é claramente mais difícil de encaixar psicologicamente.
Ao longo do ano seguinte Gastão divertiu-se imenso com os mercados. Como “investidor avisado” tomou conhecimento de que os mercados não sobem sempre e por isso mesmo Gastão ia vendendo títulos que já estavam nos máximos para comprar aqueles que ainda não tinham subido. Por vezes, os títulos vendidos subiam muito mais, mas Gastão não desesperava. “Nunca ninguém faliu a realizar mais-valias e menos valias só o são efectivamente quando são realizadas” – pensava Gastão ao que o especialista assentia.
No final desse ano, Gastão estava a ganhar 50%. Por detrás de um grande homem está sempre uma grande mulher. Neste caso: a Noiva. “Gastão, vamos casar. Precisamos desse dinheiro para a casa. Vamos aproveitar a sorte”.
Gastão pensou: “Sorte!!!….Ela não sabe do meu segredo. Isto foi mérito e muito trabalho”.
Mas como a noiva de Gastão era muito convincente, ele anuiu. Todo o legado do tio foi investido na boda, na casa, nas obras e ainda sobrou para uma conta rendimento para acautelar a reforma. Contudo, Gastão estava desgostoso. Tinham-lhe tirado o brinquedo.
Passados 4 anos, Gastão encontrou o seu primo Donald que havia recebido o mesmo legado do Tio. Donald não tinha feito nenhum investimento de vulto e mantinha a mesma vida frugal de sempre. Gastão viu ali a sua oportunidade. Com a sua “experiência e conhecimentos”, Donald ganharia fortunas nos mercados financeiros.
Vê Donald, em apenas um ano ganhei 50%, comprei em baixa e vendi mesmo perto do topo. Agora o índice NASCRASH está ainda mais barato do que estava quando investi inicialmente (Gastão esquecera-se de dizer porque razão tinha vendido). ”Isto são factos Donald” - sentenciou.
Donald nem se atreveu a sugerir que poderia ter sido …Sorte.
A conselho de Gastão, Donald investiu nos mínimos do índice NASCRASH. Nas semanas que se seguiram à primeira compra, Donald via o valor de mercado do seu investimento cair brutalmente. “Boas notícias” disse Gastão. “O mercado está mais barato do que nunca”. Não era um eufemismo. Gastão estava convicto do que estava a dizer. E já se sabe, “o mercado é para os convictos”.
Nota: Sem dúvida que é preciso uma boa dose de convicção para vencer nos mercados. Muitos confundem convicção e coerência no método, com convicção numa posição num determinado título ou activo. Esses investidores são capazes de todas as construções e desconstruções para provar ao mundo que têm razão em deter aquela acção ou posição. Há um exemplo clássico: depois de uma queda, muitos gostam de comprar só porque caiu. Rebuscadamente autojustificam-se com os fundamentos (“esta acção está barata”). Mais tarde, se o trade correr bem, apressam-se a vender encaixando um ganho e proclamando: “comprei perto dos mínimos e já fiz a mais-valia”. Para trás deixam a justificação fundamental que deixou de servir. Por sua vez, se o título continuar a cair, a justificação fundamental ancora-o e autojustifica-o. Para além disso, ninguém o acusará de tonto por ter comprado perto dos mínimos. No longo prazo, onde a sorte conta pouco, este tipo de lógica só tem um único resultado possível: perder dinheiro

Donald nem se atreveu a contestar o primo especialista quando este lhe sugeriu reforçar a posição com um palavrão: “alavancagem”. Na verdade a única coisa que Gastão sabia sobre alavancagem era que se tratava de uma forma de ganhar mais dinheiro com o mesmo capital. Donald reforçou a sua posição, com alavancagem, e esperou que o mercado desse razão ao seu querido primo…

Mas não deu! Com o mercado a deteriorar-se cada vez mais, Donald começou a ter pensamentos mórbidos. O seu primo era o principal personagem dos seus sonhos que já envolviam facas e outros instrumentos de tortura. No momento em que perdeu a vergonha e se decidiu a “partir a loiça” enquanto restava alguma, o primo Gastão retorquiu: “Agora, nos mínimos? És louco? Não percebes nada disto. Nem pensar…”
“Mas o dinheiro é meu” – balbuciou Donald
Gastão não ouviu. “Sabes, vamos fazer como os especialistas. Vamos reduzir a exposição quando o índice NASCRASH corrigir em alta 10%.”
Donald duvidou, mas não contrariou. Ao fim e ao cabo uma recuperação de 10% em posições alavancadas (sim, ele já tinha descoberto o que era isso) já permitiria uma minimização dos estragos.Mas o mercado estava implacável e não corrigiu, em vez disso “foi directo para sul”. Após mais um revés, os primos almoçaram para fazer um ponto da situação.
“Irracional, está tudo louco” – rosnava Gastão.
Face ao silêncio ensurdecedor de Donald, Gastão, visivelmente humilhado com as quedas sucessivas do índice, enfim disse:
“Isto não é mercado, eles manipulam tudo (os tipos da Silvergirl sachs), assim não é justo…vamos sair desta selva…já”
Nota: quando o mercado nos derrota, é sempre mais fácil, para quem não sabe nem quer pensar como vencer no final, deitar a culpa a outros. Por exemplo: A FED, os hedge funds…a Goldman Sachs e demais vilões.
Donald, numa réstia de presença de espírito, retorquiu:
“Primo, mais tarde dizes-me quem são os “eles”, mas é bonito ouvir-te falar na primeira pessoa do plural quando dizes “vamos”… (pausa e olhar fulminante). Deixa-me dizer-te o seguinte: até agora segui à risca os conselhos de um egocêntrico que não percebeu que teve sorte há uns anos e que não tratou de perceber o que se estava a passar e onde se estava a meter. Mas sabes, querido primo, desta vez “VAMOS” fazer de outra maneira. Parti para esta odisseia com muito dinheiro e pouco conhecimento. Hoje tenho menos dinheiro, mas o suficiente para me manter vivo nos mercados. Quanto ao conhecimento, de facto aprendi que o mercado é um local fértil em oportunidades, mas não pelas razões que tu pensas ou que te disseram os teus amigos. Um local tão incerto e complexo e onde tantos não têm essa noção, é com certeza objecto de estudo prático. Passo a Passo é isso que vou fazer.




quarta-feira, 28 de março de 2012

Gerir uma carteira de investimentos – um processo de descoberta

Por Alexandre Mota

A gestão de uma carteira de investimentos é uma missão desafiante. Para o iniciado ou mesmo para uma boa parte dos veteranos experimentados, a dificuldade começa exactamente pela ilusão de facilidade. De facto, aparentemente é cada vez mais fácil investir. Bastam poucos milhares de euros, um PC, um acesso online e, por último, uma boa dose de presunção decorrente da ideia feita: “o mercado é feito para ganhar dinheiro, isto é, para eu ganhar dinheiro”.

Gerir a nossa carteira de investimentos é um negócio com poucas barreiras à entrada, tendência que se acentuou bastante nos últimos dez anos. Os potenciais investidores passaram a aceder desde casa, do café ou do escritório, aos acontecimentos nos vários mercados e às notícias que influenciam o seu portfolio. À distância de um clique, os “Pequenos Soros e Buffetts” compram ienes, ouro ou petróleo, colocam e cancelam ordens, num frenesim de trading global e democrático.

A diversão que isto provoca não é indiferente ao comum dos mortais. É avassalador o efeito positivo sobre o ego de um ser humano, potencial investidor, provocado pelo poder de aceder aos mercados globais e tomar decisões…ao segundo. É avassalador o poder que alguma sorte (sim, existe sorte e azar) provoca na mente desses potenciais investidores que, depois de meia dúzia de negócios bem sucedidos, sentem-se capazes de tudo e acima de qualquer coisa.

Com o tempo virá a inexorável purga. Nessa altura, o investidor sério terá inevitavelmente que investigar muito bem os seus objectivos de longo prazo (fazer crescer as poupanças ou divertir-se?) e as suas competências (que mercados conhece? o que aprendeu com a experiência? que background técnico tem? conhece os instrumentos financeiros disponíveis e o seu potencial e risco? Fez o trabalho de casa? Tem algum plano? Que tempo tem para esta actividade? Que meios dispõe? Que custos tem?).

O investidor sério não se engana a si próprio. Procura incessantemente potenciar os seus pontos fortes. Com o tempo, a diversão deixa de ser o objectivo subliminar, mas sim a consequência colateral de um processo de investimento com a marca do sucesso. Com o tempo, nenhum investidor terá possibilidade de ser bem sucedido sem o conhecimento profundo dos mercados em que actua, sem disciplina, sem capacidade de adaptação às mudanças e sem uma filosofia de actuação adequada à sua personalidade e objectivos de investimento.
Para poucos o processo demora meses, para alguns mais demorará anos, mas para a maioria dos investidores esse processo de investigação nunca chega, nunca é feito. Esses seguirão os métodos e a filosofia de sempre. Obterão, como é óbvio, os resultados de sempre.

Para quem está disposto à ruptura, o primeiro sinal virá inevitavelmente com o choque da realidade: a primeira perda, a primeira grande perda. O impacto da primeira grande perda é profilático, quase milagroso. Por isso só alguns a sentem na sua verdadeira dimensão. A sua verdadeira dimensão começa por ser avassaladora sobre o ego outrora inchado, mas após alguma limpeza interior, o investidor sério que emerge estará sem dúvida mais preparado. Pelo menos percebeu que o mercado não existe só para ganhar dinheiro, mas também para lhe tirar dinheiro. E mais: se for suficientemente sério consigo próprio, concluirá que se continuar a actuar como sempre, o mercado acabará por lhe tirar mais e mais dinheiro até ao limite da sua capacidade financeira e mental. 

Após o primeiro choque ou, se for preciso, vários pequenos choques distribuídos no tempo, o investidor sério consigo mesmo perceberá finalmente quão difícil o mercado é e passa à fase seguinte. Nessa altura a frase “o mercado é feito para ganhar dinheiro” deixa de fazer sentido. A verdade é que o mercado existe para transferir dinheiro e fá-lo enviando cheques dos perdedores para os ganhadores.

Portanto, fiquemos esclarecidos para que serve o mercado. É uma máquina de eliminação dos perdedores, premiando os ganhadores. A sua função económica é facilitar os negócios e encontrar rapidamente contrapartes na alocação dos recursos. Não serve, caro investidor, para nos entregar um cheque de mão beijada.
Para sair vencedor tem de definir os seus objectivos e trabalhar nas suas competências. Contra si terá o poder de um conjunto de ideias feitas, vícios e mitos. Contra si terá a aparente facilidade que o acesso global permite. Contra si terá o barulho gerado pela sorte efémera de alguns mas, acima de tudo, contra si terá a sua natureza humana. Se perceber tudo isto (e rápido), tem fortes probabilidades de sobreviver e algumas probabilidades de se tornar um investidor excepcional.  

quinta-feira, 22 de março de 2012

DÉJÀ VU


Por Alexandre Mota

Sinais preocupantes na economia real

O PMI do sector transformador chinês, relativo ao mês de Março, saiu a 48,1, o quinto mês consecutivo de queda.

O PMI do sector transformador alemão, relativo ao mês de Março, saiu a 48,1 (esperava-se 51), segundo mês consecutivo de queda.

Complacência nas bolsas

O índice VIX estabilizou em torno de 15% (valores de 2007).
O índice VDAX está abaixo de 20% (valores parecidos com 2007 e 2008).

Conclusão: A economia mundial dá sinais de recuo. A China dá sinais de recuo. O mercado acionista está complacente, o que é visível (para quem quer ver para além da espuma da onda bull) no prémio que se paga por seguros de cobertura de risco de baixa de preço que estão a níveis historicamente baixos.

Exemplo: Em meados de Outubro de 2011, quando o medo imperava, se eu quisesse comprar um seguro de protecção total (ou seja, preço de exercício igual ao preço de mercado da altura) que me protegesse de uma baixa de cotação do índice S&P500, durante os 6 meses seguintes, pagaria 9%.
Ontem, a preços de fecho do mercado, o mesmo seguro custaria 4,5%.

Concretizando: comprar uma opção de venda (put) do S&P500 com preço de exercício 1400 e vencimento em Setembro, custa 4,5%

Desde Outubro, o S&P500 subiu 15,70%.

Portanto, o mercado está complacente, a economia está a derrapar, os bancos centrais já imprimiram e podem entrar em modo “pause”….

A sensação de Déjà vu face a 2007, 2010 e 2011 é inegável.

É altura de comprar seguros que cubram quedas nos próximos 6 meses.

Saber mais: