quarta-feira, 25 de julho de 2012

KEYNES E OS AUSTRÍACOS

Por Alexandre Mota


Na atual conjuntura, os yields sobre a dívida pública espanhola são o principal indicador sobre o destino da zona euro.

A Grécia foi apenas o início de uma crise profunda e prolongada. Como já é admitindo à boca pequena, uma saída da Grécia da zona euro seria um mal necessário. Portugal e Irlanda são danos aparentemente manejáveis que estão por enquanto fora do radar. Espanha e Itália são outra realidade, outros números, outro nível de perdas. As medidas em Espanha não estão a resultar, o bailout à banca é insuficiente e as autonomias imploram por dinheiro que o estado central não tem. Há duas visões antagónicas sobre esta temática:

- A visão, que chamamos simplificadamente, pós Keynesiana, defende a intervenção das autoridades via banco central e governos centrais;

- A visão, que chamamos simplificadamente, liberal, defende a falência como forma de limpar os excessos, reconstruir a capacidade de poupança e crescer.

As opiniões são diversas no campo Keynesiano, mas o tronco comum passa por uma boa dose e impressão monetária (leia-se imprimir dinheiro para refinanciar as dívidas dos Estados diretamente ou via banca) e uma menor dosagem na austeridade que, de um modo geral, é reconhecida como necessária, embora deva ser mais diluída no tempo.

No campo liberal, a escola austríaca (a mais estruturada e filosoficamente sólida neste campo) defende que a atual crise resulta de uma insuficiência de poupança e excesso de dívida resultantes da intervenção das autoridades monetárias (que empurraram as taxas de juro para baixo) e dos governos que incentivaram atividades económicas não rentáveis. Para os austríacos o excesso de dívida resultou do excesso de Estado em sentido lato. Portanto, a solução é menos Estado e menos dívida.

Em comum, ambas as visões reconhecem que há um problema de dívida. Os Keynesianos defendem inflacionar para pagar aos credores; os liberais defendem deixar falir.

Onde se posicionam os nossos governantes?

Não sabemos ao certo, mas ao rever as atitudes dos governos, comissão europeia e do BCE ocorre-nos a audição de uma orquestra desafinada, sem maestro e, pior que isso, sem música de qualidade.

Ocorre-nos também pensar que os austríacos têm razão quando apontam o dedo ao excesso de Estado. Há razões para que tal tenha acontecido. O Estado social nas democracias ocidentais era a terceira via, a via democrática, o contraponto à União Soviética e a evolução para um estágio mais humano do capitalismo. Era, mas já não é. Evoluímos rapidamente para uma situação em que são mais os dependentes do Estado, do que os contribuintes. A solução tem passado por taxar mais os contribuintes, mantendo no essencial as despesas. No longo prazo, não vai resultar porque destrói o incentivo a criar riqueza. Esta é uma conclusão comum a Keynes e aos liberais e não um “quote” liberal. Aliás, estamos convictos que Keynes coraria de vergonha e dificilmente concordaria com o que se fez em nome das suas teorias.



Bons Investimentos!


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