Por Alexandre Mota
“When the music stops, in terms of liquidity, things will be complicated. But as long as the music is playing, you’ve got to get up and dance. We’re still dancing.” – Chuck Prince, CEO of Citigroup, July 2007.
A citação acima está no topo do ranking das melhores citações sobre “como funciona o sistema”.
Os grandes bancos sabem que as suas decisões são arriscadas, mas não têm a disciplina para as evitar. Os gestores dos grandes bancos tudo fazem para insuflar as cotações das ações (pois têm, muitas vezes, o grosso dos seus rendimentos indexados à performance das ações) e esperam (sonsamente) que os supervisores controlem o mercado. Num típico comportamento de manada nenhum banco será especialmente criticado se fizer o que todos os outros fazem, mesmo que as decisões sejam desastrosas no longo prazo.
O problema estará na supervisão ou estará essencialmente na moral tóxica de tudo isto?
Se fosse permitido que os grandes bancos falissem, se não houvesse nenhuma mão protetora que os protegesse quando as coisas correm mal, o sistema estaria muito mais moralizado e os gestores seriam muito mais ponderados. Ora, atualmente não é isso que acontece porque o sistema está construído e é alimentado por uma evidente (e indecente) cumplicidade entre governos, bancos centrais e bancos.
Desde a crise de 2008, os programas de estímulos quantitativos nos EUA (QE1, QE2, Operação Twist e QE3) mantiveram a música a tocar. Todavia, a economia não melhorou. Para onde foi a música? Para o setor financeiro (ações, obrigações, etc). Na Europa os melómanos decidiram uma música diferente: só para os ajuizados e dignos; os outros terão de aprender a merecer ouvir sonatas.
Na minha perspetiva, tudo isto é perverso, a liquidez generosa não resolverá o problema de crescimento. Pior que isso, a excessiva liquidez, a par da moral tóxica referida acima, tenderá a desviar os recursos para atividades improdutivas, alimentar bolhas especulativas e, no final, originar uma nova crise. Pode, num cenário cada vez mais provável, originar estagflação (inflação sem crescimento).
Qualquer interveniente no mercado que entenda esta lógica perversa terá o incentivo a dançar enquanto a música está a tocar. Muito bem, enquanto a música estiver a tocar, há que dançar até porque não o fazer pode significar uma perda real.
Num cenário inflacionista, as obrigações e cash poderão revelar-se investimentos que resultarão em perdas reais de poder de compra (são aparentemente mais seguras, mas os retornos não compensam a inflação). Enquanto a música tocar (enquanto houver liquidez) o investidor que queira proteger o seu património em termos reais deverá considerar que é mais seguro investir em ativos reais, inclusive ações, do que em obrigações de alto rating.
Num cenário deflacionista, obrigações e cash serão os portos seguros.
Em qualquer um dos cenários, os metais preciosos afiguram-se como uma boa alternativa de investimento e um antídoto contra a impressão sem limites por parte dos bancos centrais.
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