Warren Buffett afirmou esta semana que o ouro é uma bolha especulativa. Eis os principais pontos do “Oráculo de Omaha”:
1) o metal amarelo não tem o potencial das terras agrícolas ou das empresas;
2) a rentabilidade do metal amarelo só se garante se um grupo continuar a comprar, convencido de que vai haver mais pessoas dispostas a investir;
3) as bolhas que se tornam suficientemente grandes acabam inevitavelmente por explodir.
Imagine uma economia imaginária em que a moeda de troca é peixe. O peixe tem um valor de uso, um valor de troca e ao mesmo tempo uma reserva de valor (supondo que há arcas frigoríficas). Claro que não existe peixe em quantidades ilimitadas. Visando a persecução do “bem comum” e os “superiores interesses da nação”, o Banco Central do Peixe monopoliza esta emissão monetária declarando: “este peixe é verdadeiro e tem curso forçado, valendo como única moeda de troca”. Como é óbvio, não há peixe que chegue para financiar o “bem comum”. Portanto, o que faz o Banco Central do Peixe? Falsifica o peixe (injectando-lhe farinha por exemplo). Mais ainda…falsifica todo o peixe necessário de forma a financiar “os estádios, as fontes a jorrar água, as parcerias, os subsídios, as reformas douradas e as outras, a ajuda aos bancos…etc, etc”. Tudo projectos de inegável valor económico. Claro que com um poder de emissão sem limites é natural que a taxa de juro seja manipulada por esta mega intervenção. E uma taxa de juro baixa agrada aos devedores que são o comum cidadão.
Que faz o investidor avisado? A resposta é óbvia…guarda peixe verdadeiro (peixe real). A lei de Gresham é exactamente isso. Má moeda expulsa boa moeda.
Voltemos à “bolha do ouro”. Enquanto vigorou o sistema de Bretton Woods (1944-1971), a moeda em circulação deveria ter como correspondência ouro no banco central. Para além disso, os EUA seriam a âncora do sistema e haveria uma taxa de câmbio fixa dólar/ouro, ou seja, ouro e usd eram a mesma coisa. Mas só em teoria conforme dá para perceber pela alegoria acima descrita. Os EUA enganaram os incautos emitindo “dólares falsos” para financiarem, entre outras coisas, essa grande cruzada gloriosa que foi a Guerra do Vietname. Finalmente, em 1971, Nixon deixou cair a máscara e terminou o sistema de Bretton Woods. Que terá acontecido ao Ouro depois disso? Claro que disparou. Desde a paridade fixa (35 usd por onça), o ouro atingiu 850 usd em Janeiro de 1980. Depois corrigiu para perto de 250 usd em Agosto de 1999. Nos últimos dez anos o ouro tem subido consistentemente, fixando um máximo a 1921 usd em Setembro de 2011.
O ouro subiu 4900% desde a queda do sistema de Bretton Woods. Está alto face a 1971. Mas estará caro?
Uma possível métrica é o chamado “preço sombra do ouro – (shadow gold price)”. Esta métrica divide a base monetária americana pelo stock oficial de ouro na posse dos EUA. A mesma fórmula foi usada para calcular a paridade ouro/usd que vigorou sob o sistema de Bretton Woods. O shadow gold price (“SGP”) é o preço teórico a que a FED teria de depreciar o USD no sentido de cobrir as responsabilidades de todo o sistema, transformando uma moeda baseada em dívida, numa moeda baseada num activo – neste caso o ouro). O “SGP” ronda os 10.000 usd por onça!!! Recordo…o ouro está a 1730 usd por onça.
Conclusão: Não vou discutir o ponto 1) das afirmações de Buffett. Provavelmente ele tem razão. Talvez sim, talvez não. Interessam-me mais os pontos 2 e 3. De facto, conforme mostram muitas métricas, entre as quais aquela que explicito neste post, a bolha está na dívida e no papel fiduciário. A subida do ouro é uma reacção (em curso) dos investidores. Um dia será uma bolha, mas não já.
Post já longo…mas voltarei seguramente a este tema até porque o ouro tem uma irmã bonita com uma bela tez cinzenta, destinada a brilhar nos próximos anos…a Prata.
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