sexta-feira, 27 de julho de 2012

Super Mário

Por Alexandre Mota


Na quinta-feira, dia 26 de Julho, o presidente do BCE, Mario Draghi interveio verbalmente. Quando se adivinhava mais uma sessão em que os yields da dívida espanhola testariam novos máximos, Draghi afirmou que tudo faria para assegurar a sobrevivência do euro e acrescentou "acreditem que tal será suficiente". Portanto, traçou uma linha na areia.

Inicialmente os mercados reagiram em alta, mas, como se sabe, o diabo está nos detalhes e nesta matéria é provável que estas palavras não sejam mais do que uma tentativa de ganhar tempo. Se não houver atos concretos, o mercado acabará por testar o BCE e obrigar a que este coloque dinheiro onde adiantou palavras.

Isto remete para a solução desta crise. A solução que estão a montar para resolver esta crise de dívida será muito provavelmente e maioritariamente a impressão de dinheiro. O único problema é que isso não resolve o problema, apenas o adia por mais alguns tempos. Quando a banca estiver toda ou quase toda nacionalizada, não houver mais margem para cobrar impostos e a dívida do estado estiver apenas nas mãos dos bancos centrais e restantes bancos zombies, então sim, nessa altura a dívida será cortada de outra forma: ou através de cortes brutais na despesas ou/e através de um incumprimento brutal e/ou uma desvalorização da moeda. Isto não é uma questão europeia. É uma questão americana, europeia, japonesa, em suma, do mundo desenvolvido.




quarta-feira, 25 de julho de 2012

KEYNES E OS AUSTRÍACOS

Por Alexandre Mota


Na atual conjuntura, os yields sobre a dívida pública espanhola são o principal indicador sobre o destino da zona euro.

A Grécia foi apenas o início de uma crise profunda e prolongada. Como já é admitindo à boca pequena, uma saída da Grécia da zona euro seria um mal necessário. Portugal e Irlanda são danos aparentemente manejáveis que estão por enquanto fora do radar. Espanha e Itália são outra realidade, outros números, outro nível de perdas. As medidas em Espanha não estão a resultar, o bailout à banca é insuficiente e as autonomias imploram por dinheiro que o estado central não tem. Há duas visões antagónicas sobre esta temática:

- A visão, que chamamos simplificadamente, pós Keynesiana, defende a intervenção das autoridades via banco central e governos centrais;

- A visão, que chamamos simplificadamente, liberal, defende a falência como forma de limpar os excessos, reconstruir a capacidade de poupança e crescer.

As opiniões são diversas no campo Keynesiano, mas o tronco comum passa por uma boa dose e impressão monetária (leia-se imprimir dinheiro para refinanciar as dívidas dos Estados diretamente ou via banca) e uma menor dosagem na austeridade que, de um modo geral, é reconhecida como necessária, embora deva ser mais diluída no tempo.

No campo liberal, a escola austríaca (a mais estruturada e filosoficamente sólida neste campo) defende que a atual crise resulta de uma insuficiência de poupança e excesso de dívida resultantes da intervenção das autoridades monetárias (que empurraram as taxas de juro para baixo) e dos governos que incentivaram atividades económicas não rentáveis. Para os austríacos o excesso de dívida resultou do excesso de Estado em sentido lato. Portanto, a solução é menos Estado e menos dívida.

Em comum, ambas as visões reconhecem que há um problema de dívida. Os Keynesianos defendem inflacionar para pagar aos credores; os liberais defendem deixar falir.

Onde se posicionam os nossos governantes?

Não sabemos ao certo, mas ao rever as atitudes dos governos, comissão europeia e do BCE ocorre-nos a audição de uma orquestra desafinada, sem maestro e, pior que isso, sem música de qualidade.

Ocorre-nos também pensar que os austríacos têm razão quando apontam o dedo ao excesso de Estado. Há razões para que tal tenha acontecido. O Estado social nas democracias ocidentais era a terceira via, a via democrática, o contraponto à União Soviética e a evolução para um estágio mais humano do capitalismo. Era, mas já não é. Evoluímos rapidamente para uma situação em que são mais os dependentes do Estado, do que os contribuintes. A solução tem passado por taxar mais os contribuintes, mantendo no essencial as despesas. No longo prazo, não vai resultar porque destrói o incentivo a criar riqueza. Esta é uma conclusão comum a Keynes e aos liberais e não um “quote” liberal. Aliás, estamos convictos que Keynes coraria de vergonha e dificilmente concordaria com o que se fez em nome das suas teorias.



Bons Investimentos!


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Veículo Desgovernado

José Dias


Dezanove cimeiras desde que a crise soberana abateu-se sobre a periferia da Zona Euro e continuamos na mesma encruzilhada.

Talvez porque continuamos a viver na mesma negação da realidade.

Talvez porque não gostamos da verdade.

Talvez porque não temos coragem de tomar as medidas difíceis.

O euro foi-nos vendido como a resposta para a nossa falta de crescimento e falta de emprego.

Findo uma década, sem crescimento, estamos de novo à beira do abismo.

Três pacotes de ajuda em 30 anos e parece que ainda não aprendemos a lição.

Uma lição que é fácil de aprender: menos estado e mais economia de mercado.

Os nossos problemas resultam de empresas que se sobrepõe ao “rule of law”. Uma impunidade que choca e uma justiça que não funciona.

Há uma semana um novo pacote para recapitalizar os bancos espanhóis foi anunciado. Com toda a pompa e circunstância. Os investidores respiraram de alívio.

Uma união fiscal, uma união bancária seria finalmente a solução.

As praças europeias subiram, os yields baixaram ligeiramente e alguns políticos puderam dormir umas noites mais sossegados. O euro apreciou face ao dólar em reacção.

Mas menos de uma semana depois, o pesadelo e as insónias regressaram.

Os yields em Espanha ultrapassam o limite do 7% - a linha na areia que separa a solvência da insolvência.

Podem atingir o mercado com intervenções, mais poderes para os burocratas em Bruxelas, etc, mas o MERCADO acaba por se vingar. Felizmente, os especuladores estão alerta e estão a fiscalizar os políticos que afundaram as economias.

As tentativas de planeamento central são um fracasso mas vivemos na ilusão e numa realidade distorcida. Não queremos ver. Ignoramos a fome na Rússia soviética, na Coreia do Norte, o desastre económico em Cuba ou na Venezuela ou o buraco da Politica agrícola comum.



Um problema de excessivo endividamento não se resolve pedindo mais dinheiro emprestado. Um crescimento que se alimenta no endividamento nunca é sustentável.

Nem se resolve dando mais poder a meio dúzia de burocratas que julga ter poder para se substituir as decisões de milhões de agentes económicos.

Nem se resolve dando o planeamento das economias a bancos centrais que fixam a taxa de juro. Como quem fixa o preço do pão na Rússia Soviética.

Temos que viver dentro das nossas possibilidades. Por muito que isso custe. Mesmo que implique um ajustamento de 50% nas nossas economias.

Mesmo que implique um fim às ajudas dos estados a instituições financeiras insolventes.

Mesmo que implique responsabilizar criminalmente quem tomou más decisões.

O mercado não espera que estas decisões sejam tomadas. O mercado antecipa. Enquanto recusarmos assumir os nossos problemas e tomar as decisões difíceis, mais violento será o desfecho final.


José Dias
Golden Broker