sexta-feira, 27 de junho de 2014

A Dissonância Cognitiva nos Investimentos

Todas as pessoas têm crenças pessoais que compõem aquilo que somos como pessoa. Quer estas crenças tenham sido estabelecidas por experiências de vida, incorporadas na nossa psicologia desde o nascimento, elas moldam a forma como vemos o mundo.

Estas crenças centrais também podem levar a um viés extremo que seja difícil de quebrar. 

Muitas pessoas pegam-se a uma ideia ou a um potencial resultado final ao ponto de ignorarem qualquer evidência ou dado que lhes aparece à frente que contrarie as suas noções pré estabelecidas. 
Muitos investidores, como outro qualquer grupo, caem no erro das expetativas incorporadas. 

Muitas vezes existe uma crença muito forte numa ideia. Quando é apresentada uma nova vidência contra a crença estabelecida, esta evidência não é aceite. Aceitar a evidência cria um sentimento desconfortável designado por dissonância cognitiva. E torna-se tão importante proteger a crença inicial, que o investidor vai racionalizar, ignorar e mesmo negar qualquer coisa que não encaixa na sua crença. 

Muitos investidores estão tão apegados a um resultado esperado no mercado que são incapazes de ver outro resultado que possa acontecer. Racionalizaram o seu timing político, macroeconómico num estado de convicção tal que julgam ser inquebrável.

Estes estados levam muitas vezes a tomar posições contraditórias no mercado acionista, commodities, com a expetativa de que “o mercado está a fazer um topo” ou “o mercado está prestes a inverter”. 
Outro resultado da dissonância cognitiva é a paralisia pela análise. Muitas opiniões contraditórias criam indecisão, que leva à inação. Estar em liquidez por um período longo de tempo não permite alcançar os objetivos de investimento e vai criar ainda mais ansiedade se a tendência continuar a favorecer a criação de riqueza. No final do dia, quem decide tudo é o preço. 

O preço é a única coisa que interessa. 

Podemos deitar fora as opiniões, notícias importantes, confiança, sentimento, avaliações, relações económicas, ou qualquer outro indicador que diga que o mercado está num determinado sentido. O mercado não quer saber para onde eu ou qualquer outra pessoa acha que o mercado deve ir, e muitas vezes reage de forma completamente imprevisível. É por isso que temos de estar preparados para qualquer resultado final para se ser um investidor de sucesso.

Toda a gente, em determinados momentos do tempo errou nos esforços de ser bem-sucedido. Eu próprio admito que sou muito cauteloso quando o mercado está a subir e não sou suficientemente agressivo quando me são apresentadas oportunidades de compra quando o mercado faz ligeiras correções. É nessas oportunidades que nos interrogamos “ e se…”, fazendo vários cenários. Não há que ter vergonha de estar errado; apenas existe vergonha em estar errado quando todas as evidências apontam para o contrário do nosso posicionamento. 

Apresento abaixo algumas dicas para ultrapassar a dissonância cognitiva na sua carteira de investimentos:

1) Não se apaixone por nenhum investimento: não fique enamorado por qualquer ação ou outro ativo que veja que caiu o suficiente para se encontrar em ponto de compra ou manter em portfólio. Tente ser o mais objetivo possível quando olha para as suas posições para determinar se ainda merecem estar na sua carteira de investimentos.

2) Pare de tentar adivinhar máximos: todas as semanas vemos um novo analista e perito em mercados a dizer que o mercado acionista não pode subir mais e para as pessoas se prepararem para o “fim do mundo”. Sabe porquê? O medo vende! No entanto, o medo raramente lhe dá dinheiro a ganhar.

3) Crie uma Lista de Observação: tenha uma lista de títulos que considera adequados para a sua carteira de investimento a compare-os com as posições que detém em portfólio. Atualize as ideias numa base regular para se certificar de que está a captar novas oportunidades e a definir pontos de preços, onde irá implementar essas ideias. Recentemente comprei Prata para os meus clientes porque foi um título que estava na minha lista de observação que eu monitorava ativamente e a cumprir as metas de preço.

4) Faça uma gestão do risco com Stop-Loss: ao investir existem sempre quatro resultados: um grande ganho, um pequeno ganho, uma pequena perda e uma grande perda. Os três primeiros resultados são aceitáveis. No entanto, pode sempre evitar uma grande perda que possa fazer uma mossa grande na sua carteira de investimentos. Eu recomendo sempre definir um stop-loss para que seja sempre possível definir o risco, e delinear uma estratégia de saída da posição.

5) Mantenha o portfólio equilibrado: embora nem sempre possa ser possível ver os dois lados do mercado devido à dissonância cognitiva, deve sempre manter uma atitude equilibrada na construção do portfólio. Confiança e disciplina podem ser usados de forma efetiva para implementar novas ideias de investimento. No entanto, um excesso de ganância, medo ou convicção pode abalar de forma significativa a sua carteira. Embora não exista uma fórmula perfeita para estar no mercado, existem sempre passos disciplinados que pode fazer para melhorar o seu resultado.


Bons Investimentos!

João Carlos Pinto
Trader na Golden Broker

terça-feira, 3 de junho de 2014

Bons negócios, maus negócios.



Jack Schwager é conhecido pela publicação das suas entrevistas a traders e investidores de sucesso: “The market wizards”. No seu último “Hedge fund market wizards”, ele repete a fórmula e faz um resumo em jeito de lições sobre o mercado.

Uma das lições mais polémicas é: “Não confundir o conceito de negócio ganhador com o conceito de bom negócio.”

Numa primeira leitura esta lição parece absurda. De facto, ganhar é sempre bom e perder é sempre mau. Não será assim? Não. Claramente, não.

Vejamos a explicação de Schwager, que subscrevo na íntegra:

Um bom negócio pode perder dinheiro e um mau negócio pode ganhar dinheiro. Até os melhores processos de investimento perdem dinheiro durante uma certa percentagem de tempo. Não há forma de saber aprioristicamente qual o negócio específico que ganhará dinheiro. Desde que o negócio decorra de um processo com uma vantagem probabilística, o negócio é bom, ganhe ou perca, porque se forem feitos negócios similares múltiplas vezes, o processo resultará num lucro ao longo do tempo. Já um negócio iniciado sem processo, ou como mero jogo de casino, é sempre mau, ganhe ou perca, porque ao longo do tempo o processo é intrinsecamente perdedor.”

Mark Douglas, autor do bestseller – trading in the zone - sobre a psicologia dos investimentos, escreve no seu livro:

Para eliminar o risco emocional do trading é preciso neutralizar as expectativas quanto ao comportamento do mercado num dado momento ou situação….temos de estar dispostos a pensar a partir da perspetiva do mercado…que comunica connosco com base em probabilidades….Para pensar em termos de probabilidades, temos de criar uma atitude mental coerente com os princípios fundamentais desse ambiente. 

Essa atitude consiste em 5 verdades fundamentais:

1) Tudo pode acontecer

2) Para ganharmos dinheiro consistente não precisamos de saber o que vai acontecer a seguir;

3) Há uma distribuição aleatória entre ganhos e perdas e um conjunto de variáveis que definem uma oportunidade

4) Uma oportunidade é uma maior probabilidade de acontecer um acontecimento do que outro

5) Cada momento do mercado é único  
….”

Uma boa parte das estratégias ditas alternativas tem esta abordagem e atitude no seu ADN metodológico. Como consequência, o seu padrão de resultados foge à normalidade que tipicamente domina as estratégias clássicas (pex: ações e obrigações). Podemos afirmar que do lado clássico temos média, benchmarks e um padrão que tende para a igualdade e indiferenciação. Do outro lado - do lado alternativo - temos muita dispersão, retorno absoluto, padrões desiguais e diversidade. Consequentemente, a questão do processo de investimento é muito mais relevante para uma gestão alternativa, cujo gestor sabe que tem de apostar na diferenciação, ou invés do gestor clássico que tem um benchmark como guião.