A maioria dos investidores responde a esta pergunta referindo que visa o
crescimento ou preservação do seu capital, ou assegurar um rendimento fixo.
A resposta é simples e clara, remetendo para as preferências de risco do
investidor: um investidor mais conservador abdica do potencial de crescimento
em favor do rendimento e, principalmente, da preservação; um investidor mais
agressivo opta pelo crescimento e alto rendimento. Ambas as escolhas são
legítimas e remetem para objetivos muito concretos num determinado horizonte
temporal.
Claro e cristalino? Na prática, não. De facto, os “avanços” teóricos ao
nível da teoria do portfolio enraizaram a moda do benchmark na indústria de
gestão de ativos. Numa primeira fase, tratava-se de benchmarks simples; hoje em
dia, são benchmarks complexos e quase herméticos.
Esta situação desvirtua a essência do processo de investimento, tornando-o
mais massificado, normalizado e potencialmente autodestrutivo. De facto, a
definição de um benchmark é sempre uma arbitrariedade. Mesmo admitindo que o
benchmark reflete as reais preferências do investidor, medir a performance
final face ao benchmark, e não face a um objetivo absoluto, é equivalente a
avaliar um gestor face a um caminho traçado, ignorando se esse caminho era o
melhor e, consequentemente, desligando o processo do resultado final, que, no
fundo, é o que todos pretendemos obter.
Imaginemos que queremos atravessar um rio. A maioria opta por uma ponte
antiga. Esse é o benchmark das massas (o caminho rápido da ponte antiga).
Alguns (poucos) focam-se no objetivo final e interrogam-se sobre se a ponte
antiga aguentará “tantas ovelhas”. Esses vão de barco.
Se a ponte aguentar, é evidente que os “velhos do Restelo” vão ser
ridiculizados. Nos que optaram pelo caminho da ponte há alguns conscientes, mas
a maioria são elementos que não gostam de assumir responsabilidades, preferindo
fazer o que todos fazem, ou seja, o que dita o benchmark. Ir pela ponte,
portanto. Se a ponte cair, servirá de fraco consolo referir que foi o que todos
os fizeram. Contudo, é o que todos dirão. Mesmo os conscientes.
Em linguagem do mercado, se acontecer uma situação do tipo 2008 ou pior,
por muito que alguém diga o contrário, a análise da performance face ao caminho
traçado (o benchmark) será esmagada pela dura realidade: o caminho estava
errado. Não apenas um pouco errado; não apenas ligeiramente desfasado; mas sim,
totalmente, estupidamente, factualmente errado.
Em conclusão, a inclusão de benchmark serve para termos uma referência
relativa, mas a sublimação e abuso dessa técnica de medição de performance é
prejudicial para o investidor e gestor, pois gera desresponsabilização. Para a
indústria de gestão de ativos como um todo, o benchmarking cria uma distorção e
um enviesamento em larga escala, que são potencialmente autodestrutivos.
Recomendação: se usar, por favor não abusar.