segunda-feira, 5 de maio de 2014

Qual o objetivo do seu investimento?


A maioria dos investidores responde a esta pergunta referindo que visa o crescimento ou preservação do seu capital, ou assegurar um rendimento fixo.

A resposta é simples e clara, remetendo para as preferências de risco do investidor: um investidor mais conservador abdica do potencial de crescimento em favor do rendimento e, principalmente, da preservação; um investidor mais agressivo opta pelo crescimento e alto rendimento. Ambas as escolhas são legítimas e remetem para objetivos muito concretos num determinado horizonte temporal.

Claro e cristalino? Na prática, não. De facto, os “avanços” teóricos ao nível da teoria do portfolio enraizaram a moda do benchmark na indústria de gestão de ativos. Numa primeira fase, tratava-se de benchmarks simples; hoje em dia, são benchmarks complexos e quase herméticos.

Esta situação desvirtua a essência do processo de investimento, tornando-o mais massificado, normalizado e potencialmente autodestrutivo. De facto, a definição de um benchmark é sempre uma arbitrariedade. Mesmo admitindo que o benchmark reflete as reais preferências do investidor, medir a performance final face ao benchmark, e não face a um objetivo absoluto, é equivalente a avaliar um gestor face a um caminho traçado, ignorando se esse caminho era o melhor e, consequentemente, desligando o processo do resultado final, que, no fundo, é o que todos pretendemos obter.

Imaginemos que queremos atravessar um rio. A maioria opta por uma ponte antiga. Esse é o benchmark das massas (o caminho rápido da ponte antiga). Alguns (poucos) focam-se no objetivo final e interrogam-se sobre se a ponte antiga aguentará “tantas ovelhas”. Esses vão de barco.

Se a ponte aguentar, é evidente que os “velhos do Restelo” vão ser ridiculizados. Nos que optaram pelo caminho da ponte há alguns conscientes, mas a maioria são elementos que não gostam de assumir responsabilidades, preferindo fazer o que todos fazem, ou seja, o que dita o benchmark. Ir pela ponte, portanto. Se a ponte cair, servirá de fraco consolo referir que foi o que todos os fizeram. Contudo, é o que todos dirão. Mesmo os conscientes.
Em linguagem do mercado, se acontecer uma situação do tipo 2008 ou pior, por muito que alguém diga o contrário, a análise da performance face ao caminho traçado (o benchmark) será esmagada pela dura realidade: o caminho estava errado. Não apenas um pouco errado; não apenas ligeiramente desfasado; mas sim, totalmente, estupidamente, factualmente errado.


Em conclusão, a inclusão de benchmark serve para termos uma referência relativa, mas a sublimação e abuso dessa técnica de medição de performance é prejudicial para o investidor e gestor, pois gera desresponsabilização. Para a indústria de gestão de ativos como um todo, o benchmarking cria uma distorção e um enviesamento em larga escala, que são potencialmente autodestrutivos. Recomendação: se usar, por favor não abusar.