segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Alavancagem

Em finanças, o efeito de alavanca (ou alavancagem) implica o recurso a capitais alheios para aumentar a rentabilidade dos capitais próprios. Os capitais alheios podem ser disponibilizados através de empréstimos ou através de facilidades de transação, geralmente em regime de conta margem. Neste último caso, o investidor pode aplicar um montante superior aos capitais próprios, mas há um mecanismo de garantia (o mecanismo de margens) que visa equilibrar a proporção entre capitais próprios e alheios.

Por exemplo (o caso do empréstimo): Um investidor compra 100.000 euros em ações, das quais 50% resultam do recurso a capitais próprios. Se as ações subirem 20%, a rentabilidade é de 20.000 euros, a que terá de deduzir os juros do empréstimo - assumamos 2.000 euros. Portanto, temos 18.000 euros de rentabilidade com um esforço de capital de 50.000 – 36% de rentabilidade. Se tivesse aplicado tudo com recurso a capitais próprios, ganharia 20.000 euros com um esforço de 100.000 – 20% de rentabilidade. Os capitais alheios potenciaram o efeito de alavanca. Um melhor resultado por unidade monetária de esforço próprio.

Por exemplo (o caso da conta margem): Um investidor compra 100.000 euros em cfd`s de ações, recorrendo a um depósito de 50.000 euros na sua conta. Se as ações subirem 20%, a rentabilidade é de 20.000 euros, a que terá deduzir os juros do empréstimo cfd`s - assumamos 2.000 euros. Portanto, temos 18.000 euros de rentabilidade com um esforço de capital de 50.000 – 36% de rentabilidade. Se tivesse aplicado tudo com recurso a capitais próprios, ganharia 20.000 euros com um esforço de 100.000 – 20% de rentabilidade. O uso dos cfd`s potenciou o efeito de alavanca. Um melhor resultado por unidade monetária de esforço próprio.

Notou alguma diferença? Se não notou, é natural, pois não há diferenças de monta. Há diferenças técnicas de outra natureza, por exemplo, riscos de contraparte diferentes, mas, no essencial, a matemática da dívida (explícita ou implícita) está presente em ambos os casos.


Erros de utilização

Como se pode verificar pelos exemplos acima, a alavancagem é um instrumento de rentabilização atrativo. Todavia, a utilização incorreta da alavancagem é uma das principais causas para o insucesso na gestão de carteiras. Os erros mais importantes são:


- Alavancar sem fazer algumas contas simples;

Muitos investidores controlam o risco pela percentagem de margem utilizada, ou seja, pelo crédito não utlizado, mas ainda disponível (“margin utilization” ou “utilização de margem”). O que devem fazer antes disso é recorrer aos velhos “Tês” da contabilidade: Ativos, Passivos e Capitais Próprios. Os Ativos são o valor de mercado do cash disponível e das posições abertas (é uma rubrica sensível às oscilações das posições abertas no mercado); os Capitais Próprios são os depósitos e levantamentos efetuados, os ganhos e perdas realizadas e os ganhos e perdas não realizadas (é uma rubrica sensível à atividade de trading e ao valor de mercado do ativo – quando o ativo desce, os capitais próprios descem na mesma dimensão; o Passivo é o valor que completa a igualdade: Passivo = Ativo – Capitais Próprios. No exemplo acima, se o Ativo, que valia inicialmente 100.000, passar a valer zero, e os capitais próprios, que valiam 50.000, passarem a valer -50.000 (devido às perdas de 100.000 no ativo), então, o investidor fica em falência técnica (capital negativo, isto é, o valor do ativo não serve para pagar a dívida de 50.000 euros).

O indicador mais importante é o “exposure coverage” ou “exposição coberta”. No exemplo acima, a exposição coberta é de 50%, o que quer dizer que metade da exposição está coberta com fundos próprios. Nunca deixe derrapar a exposição coberta, isto é, o rácio dos capitais próprios sobre o Ativo total.

Nunca!

Reduza as posições de forma a manter um nível adequado de cobertura por fundos próprios. Por exemplo, uma exposição coberta inferior a 50% em cfd`s de ações é uma vulnerabilidade, especialmente se for conjugada com outro erro comum…


Menosprezar eventos raros;

Falências; OPA; resultados; profit warnings, reuniões do G7 no fim de semana, etc.

Por exemplo, o BES fez este ano um aumento de capital com sucesso, com prospeto aprovado e grande procura no retalho e em institucionais. Pouco tempo depois deu-se o terramoto. Estes eventos “inesperados” são muito mais frequentes do que se pensa.

Portanto, Não deixe que o excesso de dívida, por via direta ou indireta, o coloque num beco sem saída!

Mais uma vez: reduza as posições para manter uma exposição coberta alta e estável.

E sobretudo não caia no erro seguinte…


Deixar correr as perdas e encaixar rapidamente os ganhos

É um erro de principiante. Decorre de uma enorme aversão emocional à perda realizada. Embora, no exato momento da venda, seja exatamente a mesma coisa vender uma posição a perder, transformando-a em cash, ou mantê-la, a dor causada por uma perda realizada é emocionalmente maior. Por estranho que possa parecer, há quem argumente que quem vendeu a perder (pex, a 10 euros) está pior do que alguém que manteve a posição, embora o título tenha descido mais entretanto (para 9 euros, pex). É obviamente uma heurística muito prejudicial ao investidor (“é psicológico” – como bem assumem alguns). Essa irracionalidade torna o investidor muito lento a assumir os prejuízos (alguns até dizem “só vendo a ganhar”) e muito célere na tomada de mais-valias.


Conclusão

A utilização cega da alavancagem pode resultar em fortes perdas, eventualmente perdas irrecuperáveis. A pior combinação possível é alavancar (mesmo que ligeiramente) e não aceitar realizar menos valias em determinados negócios. O cocktail verdadeiramente explosivo é ainda mais requintado: 1) comprar só porque caiu muito sem indagar porquê; 2) alavancar, se possível fortemente, e 3) quanto à saída: se a aposta correr bem, sair rápido porque “nunca ninguém faliu a realizar mais-valias”; ou se a aposta correr mal deixar andar porque, ao fim e ao cabo, era uma aposta “…de longo prazo” ou se “antes estava baixo, mais baixo está”.

2 REGRAS SIMPLES SOBRE ALAVANCAGEM e um conselho

1)       Não alavanque se não tiver decidido previamente o que fazer num cenário adverso, ou seja, se não tiver interiorizado que perante determinadas circunstâncias tem de sair a perder.

2)       Vigie e ajuste a sua exposição coberta (pelo menos para reduzir risco) evitando proactivamente as chamadas na margem, ou seja, a situação em que a exposição coberta é tão baixa (os capitais próprios tão baixos) que quem lhe emprestou dinheiro vai ter de executar as garantias.

3)       Se não concorda com as regras acima, não use alavancagem.

Bons Investimentos!

Alexandre Mota