quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

PRATA - parte I

Por Alexandre Mota


A Prata é, a par do Ouro, uma alternativa à moeda fiduciária. Os principais bancos centrais mundiais estão em “modo de impressão” (recordar primeiro post deste blog “Ctrl+P” em 13 de Fevereiro). Esta expansão dos balanços está a ser feita à custa da deterioração da qualidade dos mesmos, dado que os activos aceites como colateral pelos bancos centrais são de qualidade cada vez mais duvidosa, ou seja, os bancos centrais tenderão a estar tecnicamente insolventes.

A solução adoptada (aplaudida pela maior parte da comunidade económico científica) é não parar de imprimir. Por exemplo, hoje teremos o resultado do segundo leilão LTRO, o programa europeu de impressão, que consiste na criação de dinheiro do nada, pelo BCE, seguido de cedência aos bancos à taxa de 1%, por três anos. Este subsídio à banca tem obviamente consequências positivas para a liquidez imediata do sistema financeiro mas não resolve o problema de fundo que consiste na subcapitalização do sistema, ou por outras palavras: demasiada dívida.

Mais cedo ou mais tarde o risco consistirá em termos bancos totalmente dependentes destas ajudas as quais tenderão a ser canalizadas para aplicações que, via colateral, possam extrair o máximo de cash do BCE. Parece-me que pouco vai sobrar para a economia real.

O que isto tem a ver com a Prata…e com o Ouro?

Quase Tudo. Este modo de impressão sem limites é a primeira e principal razão para desconfiar do valor da moeda fiduciária. É evidente que deter papel-moeda dá rendimento o que implica que há um custo de oportunidade na detenção de prata. No entanto, como sabemos, as taxas de juro “sem risco” (se é que isso existe) estão muito perto de zero. Os yields de dívida pública de países vistos como solventes (pelo menos para já) estão em mínimos históricos. Por exemplo os yields da dívida pública americana a 10 anos estão a 1,95% e a dívida pública alemã está a 1,82%. Portanto, o custo de oportunidade na detenção de prata é muito baixo.

Comprar versus estar exposto

Para além disso, se encararmos a prata e o ouro como divisas, podemos ter uma exposição mais diversificada, compatível com a detenção de acções. Por exemplo, um investidor que detenha um portfolio de acções  50% americanas / 50% da zona euro tem, para além do risco das acções, o risco cambial. Se o investidor tiver a sua riqueza denominada em euros, a detenção de títulos denominados em usd é um risco que pode ser:

- Assumido;

- Coberto, vendendo a prazo usd contra euros (em conta margem);

- Transferido, vendendo a prazo usd contra outras divisas.

Essas outras divisas poderão ser o Ouro e a Prata o que torna o call de Buffett compatível com a minha opinião, ou seja, podemos investir em terrenos agrícolas, Exxon mobil, etc …. e também  gerir a denominação do investimento que em vez de ficar denominado numa divisa falida (o USD) ficará denominado em dinheiro real (o Ouro e a Prata). 


    

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Buffett e o milagre da multiplicação

Por José Dias


Na última carta enviada aos accionistas, Warren Buffett fez como é habitual uma análise dos investimentos que detém em carteira, especialmente do que correu bem no ano e do que correu menos bem.
É uma análise bastante exaustiva e nela encontramos a argumentação e a fundamentação dos investimentos detidos. Esta análise contém a “receita” do seu sucesso e só por isso vale a pena a leitura.. É no entanto uma análise um pouco extensa, ultrapassando o âmbito deste post.

Saber mais:
http://www.berkshirehathaway.com/letters/2011ltr.pdf

Gostaria de chamar a atenção para as considerações que Buffett faz sobre os investimentos em geral. Sobretudo quando considerou o ouro uma “bolha especulativa” (sobre este tema ver post do dia 17 de Fevereiro - "O ouro é uma bolha especulativa?"

Para Buffett investir é deixar de consumir agora de forma a “ganhar” poder de compra adicional no futuro.

As possibilidade de investimento são várias, mas considera três categorias fundamentais:
  • Investimentos em depósitos. Apesar de serem activos de baixo risco, na verdade poderão ser considerados perigosos. No último século destruíram o poder de compra dos seus detentores. Um dólar em 1965 corresponde agora a 7 dólares. Para se preservar o seu poder de compra, um investidor teria que obter um juro anual de 4.3%!
  • Outra categoria são investimentos não produtivos como o ouro ou a mania das tulipas no século 17. O argumento utilizado é o de que este tipo de investimento vai continuar a ser bastante desejado no futuro. No caso do ouro, receios quanto ao papel moeda justificam a “bolha especulativa” neste activo. Apesar de não ter grande uso industrial ou procriativo (1 onça de ouro agora será sempre uma onça de ouro no futuro), Buffett prossegue com a seguinte analogia. Entre um determinado stock de ouro e o equivalente em terrenos agrícolas nos EUA e acções da Exxon, Buffett escolhe a segunda opção. A justificação prende-se com o facto de daqui a 100 anos, os dividendos gerados pela Exxon e as colheitas dos terrenos agrícolas mais do que compensarão os ganhos obtidos com o ouro.
  • Estas duas primeira categorias ganham popularidade em períodos de aversão ao risco entre os investidores. Mas a preferência de Buffett vai para seguinte categoria: activos produtivos ou as chamadas “vacas leiteiras”. Em períodos inflacionários estes activos conservam o seu poder de compra sem requererem novos gastos em capital. E independentemente da moeda em circulação daqui a 100 anos, as pessoas estarão dispostas a trocar uma unidade do seu factor trabalho por um bem ou serviço produzidos por estas empresas. O seu valor vai ser determinado não pelo meio de troca em circulação mas pela capacidade destes activos em gerar rendimento.
Esta lógica na selecção de investimento por Buffett permitiu-lhe obter uma taxa de rentabilidade anual composta de 19.8% entre 1965 e 2011 versus 9.2% do S&P500 incluindo dividendos. O milagre da taxa composta poderá ser visto de uma outro forma: o ganho obtido por Buffett na sua estratégia foi de 513055% o que compara com os 6397% para o S&P500!


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

GRÉCIA – NUVENS NEGRAS NO HORIZONTE


Por Alexandre Mota


NÃO participação do BCE na reestruturação da dívida grega

O facto do Banco Central Europeu não ter participado no resgate à Grécia (pelo menos nas mesmas condições dos restantes credores) representou um favorecimento retroactivo de credores. Depois deste esquema, qualquer credor de dívida soberana europeia pensará duas vezes antes de investir, dado que corre o risco de ser forçado a uma reestruturação em que participam apenas alguns dos credores.

“Todos os animais são iguais, mas há uns que são mais iguais que outros.” – Animal Farm, George Orwell  


QUESTÃO dos Credit Default Swaps

Apesar da última palavra pertencer à ISDA, há um consenso generalizado que a activação das cláusulas colectivas resultará num evento de crédito que, por sua vez, implicará a activação dos CDS. Apesar da confusão previsível, a alternativa da não activação dos CDS seria mais uma machadada orweliana no mercado dívida soberana.


INSUSTENTABILIDADE da dívida grega

Desemprego galopante, saque ao que pode restar de potencial receita fiscal, balança comercial claramente deficitária, eis a Grécia.
A Grécia tem a garantia de que vai viver uns bons 10 anos de agonia económica. Porque aceitaram este acordo? Porque sem ele o acesso a fundos era impossível e aí sim a Grécia pararia. Mas há uma alternativa. A alternativa passaria por apoio em termos de fundos, alguma austeridade redentora, mas essencialmente uma licença sabática do euro (a solução ordeira), ou seja, a Grécia poderia retomar alguma autonomia monetária e cambial necessária para ajustar os desequilíbrios e depois voltaria ao euro. As eleições em Abril serão a afirmação desta alternativa.




sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

PETRÓLEO – UM CISNE NEGRO?

Por Alexandre Mota



No âmbito do produto Jokers concebido pela Golden Broker enviamos uma recomendação para clientes no dia 27 de Janeiro com o seguinte título: “quer investir num evento raro de grande impacto?”
No post de dia 15 de Fevereiro (“O Cisne Negro”) voltamos ao tema.

OS JOKERS

Os JOKERS, tal como estão concebidos, devem representar uma pequena fracção de uma carteira e devem ser investidos maioritariamente em eventos com grande impacto. Na pior das hipóteses o investidor perde a totalidade do montante alocado aos Jokers (por exemplo 2,5% ao ano), mas se um dos cisnes negros preconizados se concretizar, o potencial de ganho é muito significativo. Trata-se de uma forma controlar riscos e potenciar ganhos.  

UM EXCERTO DA IDEIA DE 27 de JANEIRO

Embora não seja propriamente uma surpresa para quem lê jornais, o mercado parece-nos complacente sobre a probabilidade de um evento raro no médio oriente: “o fecho do estreito de Ormuz”. É um evento improvável, mas não tanto como se julga e (mais importante) é um evento que, no caso de ocorrência, pode levar a uma escalada meteórica do preço do crude.
Aposta direccional: subida do preço do crude
Investimento mínimo: cerca de 281 euros
Perda máxima: investimento inicial
Prazo: até 20 de Julho
Potencial: ilimitado (se crude subir 50% até 20 de Julho, a ideia multiplica o capital investido por 7 vezes aproximadamente)
Nota: para mais detalhes enviar email para alexandre.mota@goldenbroker.com





quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

ALERTA! ALERTA! BOLHAS ESPECULATIVAS

Por Alexandre Mota


Conforme expliquei no primeiro post deste blogue (Ctrl+P em 13 de Fevereiro de 2012) a temática da emissão monetária está a influenciar positivamente o comportamento das acções e das commodities. Quanto? Na minha opinião, quase totalmente.

Esta subida dos mercados accionistas e das commodities não resulta da percepção de que vai ser criada mais riqueza real (maior quantidade de bens e serviços disponíveis). Resulta, isso sim, de uma alocação de mais dinheiro ao mercado de capitais (dinheiro vindo e criado do nada pelos bancos centrais!).
Trata-se, portanto, especulação pura e dura. Antecipando o BID dos bancos centrais, os mercados compraram, compraram…um pouco de tudo. Portanto, estar BULL nos mercados accionistas é acreditar em parte (no meu caso SÓ NISSO) no insuflar duma bolha dos activos reais, de que fazem parte as empresas, terrenos agrícolas e as commodities. Nesta matéria registo como factos que corroboram a tese:
- a elevada correlação entre as commodities e os índices accionistas;
- a alta correlação entre os metais preciosos e os índices accionistas;
- o timing das subidas dos índices accionistas (o S&P estancou perdas e começou a subir depois das várias juras da FED no sentido de manter baixas as taxas de juro e em reacção ao aumento do balanço do banco central (FED); os índices europeus começaram a subir, apesar do problema grego, após o anúncio do LTRO em Dezembro do ano passado);
- os índices accionistas continuam suportados pela expectativa de expansão de balanços por parte dos bancos centrais (QE3, LTRO2, etc)

Estamos perante uma bolha especulativa? Sim, E ENTÃO? Para mim não há um problema se soubermos onde está o ponto fraco da tese da subida. E o ponto fraco é só um: quando a impressora parar, o mercado accionista vai crashar. Se a impressora abrandar, o mercado vai consolidar (eufemismo para uma queda de 10%).

Existe a explicação convencional sobre o que é uma bolha especulativa, acessível em qualquer motor de busca na web, e existe a explicação que eu mais aprecio: “Chamamos Bolha Especulativa a um movimento substancial de preços que não tivemos capacidade de antecipar e investir a tempo.”

Mas há uma alternativa segura? E Se esta bolha rebentar?
Há com certeza. Há um governo do outro lado do Atlântico que paga 2% ao ano durante 10 anos por uma obrigação que não conseguirá pagar a não ser emitindo mais moeda (o dólar).

Isto faz sentido?

Na minha opinião, não faz. É também uma bolha especulativa que vai acabar um dia. Com uma diferença. Esta bolha especulativa engana. Promete rendimentos certos e capital no vencimento. É vista como um porto seguro PORQUE está assente na falácia da perenidade da supremacia americana. Até ao dia em que….
  
P.S: nada melhor que um actor na navegação de bolhas especulativas para explicar “a Bolha da Supremacia Americana” – George Soros



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A HIDRA GREGA

Por Alexandre Mota


A dívida grega cada vez mais se assemelha ao mito de Hidra (o monstro com corpo de Dragão e 9 cabeças de serpente). O primeiro dos 12 trabalhos de Hércules era matar este monstro. No entanto, sempre que Hércules lhe cortava uma cabeça outra aparecia exalando um mau hálito mortal.

Acabou a questão da dívida grega?
No longo prazo coloca-se a questão da sustentabilidade da dívida que na nossa opinião está longe (muito longe) de estar assegurada com este acordo (sem surpresa já que este acordo não é para salvar a Grécia). Para além disso, não entendo que a meta deste acordo (uma dívida sobre o PIB de 120% em 2020) seja um resultado sustentável. Parece-me, isso sim, que não será atingida e, caso seja, não é sustentável. Teremos tempo para voltar e este tema.

A questão mais imediata (surpresa!) não está resolvida. No dia 20 de Março vencem 14,5 biliões de dívida e o acordo com os credores não está garantido (longe disso). Ainda esta semana a Grécia fará uma proposta que tendencialmente será respondia até dia 8/9 de Março. Tendo em conta os adiamentos recentes contemos com ziguezagues e algo de concreto mais em cima da linha de meta.

Mas porque não está resolvido?

Porque os detentores destas obrigações (hedge funds, bancos,…etc) vislumbram a possibilidade de as receber ao par e para tal até é possível que esteja reservado algum dinheiro deste novo acordo.
De qualquer forma, porque razão um detentor de uma obrigação+o seguro (CDS) entraria em acordo com o devedor, o que implicaria a não activação do seguro, quando pode maximizar o seu ganho de duas formas?
- esperando que as obrigações sejam pagas ao par;
Ou
- não entrando em acordo o que implicaria uma activação de um evento de crédito nos CDS

Complicado?

Até agora não. Então entram as cláusulas colectivas (Colective Action Clauses). Uma cláusula colectiva permite que uma reestruturação acordada por uma vasta maioria de credores seja extensível a todos os credores. Este é o busílis da questão: não se sabe se uma minoria de bloqueio pode impedir a activação das CAC`s e também não se sabe se não haverá uma imposição de CAC`s retroactivamente de forma a impô-las a todos os credores. Para complicar ainda mais a questão, não se sabe se a ISDA (entidade que se pronunciará sobre o eventual evento de crédito) vai ser imparcial ou vai defender os interesses da corporação que representa.

A Hidra grega está viva. O hálito é insuportável !
Hércules resolveu o problema queimando as cabeças da serpente em vez de as cortar. A última cabeça foi enterrada com uma enorme pedra…

P.s: abaixo um vídeo com um excerto de uma entrevista ao representante dos privados na reestruturação da dívida grega.

http://news.bbc.co.uk/2/hi/programmes/newsnight/9698394.stm
 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Carnaval

Por Alexandre Mota


“Quem controla a massa monetária do nosso país é senhor da toda a sua indústria e comércio…quando concluirdes que todo o sistema é muito facilmente controlado, de uma forma ou de outra, por muito poucos homens lá no topo, não precisareis que vos digam como se gera inflação ou depressão.”
James Garfield, 20º presidente dos Estados Unidos da América

 Hoje é Carnaval. Que dia tão adequado para aprovar mais um resgate à Grécia!


Este resgate – dizem eles – tornará a dívida grega sustentável.

Porque hoje é Carnaval, em honra do BCE, do FMI, da União Europeia e de todos os ilusionistas, mestres da economia mundial…Rock n Roll

( A letra de “Sympathy for the Devil” poderia ter um “remake” adaptado aos nossos mestres ilusionistas. Por sua vez, a música mistura componentes sambistas. Ora, nada mais adequado ao dia de hoje)

Até à Quaresma!